Edifícios corporativos com práticas sustentáveis têm suas unidades alugadas mais rapidamente quando comparados com empreendimentos convencionais. A afirmação se baseia em estudos elaborados por diferentes entidades, como é o caso do levantamento divulgado pela Engebanc Real Estate, assessoria imobiliária. Segundo a pesquisa, na cidade de São Paulo, os green buildings apresentavam taxa de vacância de 20,6% no terceiro trimestre de 2017, contra 32% das edificações “comuns”.
“Esse tipo de informação já vinha sendo trabalhada há muitos anos, tanto que auxiliou na consolidação do mercado de prédios corporativos de alto padrão sustentáveis”, observa Felipe Faria, diretor do Green Building Council Brasil (GBC Brasil). Ele completa: “Mas, recentemente, algumas pesquisas passaram a ser feitas no Brasil, identificando e comprovando esse melhor desempenho de locação”.
Segundo Faria, o primeiro estudo do gênero foi elaborado pela Geoimovel, empresa de pesquisas imobiliárias, durante o segundo semestre de 2016. “O levantamento comparou prédios corporativos de alto padrão que receberam o Leadership in Energy and Environmental Design (LEED) com edifícios sem certificação nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Em termos de vacância, os green buildings apresentaram melhora de 7% no Rio e 9,5% em São Paulo”, diz.
Apesar de as principais pesquisas analisarem somente os mercados de São Paulo e Rio de Janeiro, a menor taxa de vacância em edifícios corporativos sustentáveis parece ser uma tendência nacional. “Em Curitiba, por exemplo, os bons resultados de mercado colaboraram para que todos os novos projetos corporativos de alto padrão sejam certificados”, comenta Faria.
LEED VALORIZA METRO QUADRADO
Para o diretor do GBC, o estudo nacional mais importante sobre o mercado imobiliário das construções sustentáveis foi realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) entre o primeiro trimestre de 2010 e o terceiro de 2014. O levantamento analisou mais de dois mil prédios comerciais em São Paulo e foi limitado pela valorização do aluguel. “A metodologia utilizada isolou uma das variáveis estudadas para verificar como as demais se comportavam”, explica o especialista.
Por exemplo, o estudo isolou o fator LEED das demais características que afetam a valorização do metro quadrado, como localização, idade do edifício e tamanho das salas. Com isso, foi possível verificar que a existência da certificação contribui para a valorização do metro quadrado que varia entre 4 e 8%. “É interessante comparar que, mesmo com valores de aluguéis mais elevados, as unidades permanecem por menos tempo vazias”, afirma Faria.
MOTIVAÇÕES
São diversos os motivos que explicam o porquê de as empresas aceitarem pagar um valor mais alto de aluguel para ocuparem empreendimentos ambientalmente responsáveis. Além da valorização da marca, que ocorre com corporações que adotam práticas sustentáveis, há ainda os ganhos financeiros que acontecem ao longo do tempo. Segundo o estudo da Engebanc, as taxas de condomínio dos green buildings são entre 15% e 25% menores.
Essa economia proporcionada pela redução no consumo de água e energia representa um importante ganho, pois os principais custos de uma edificação são referentes à fase de ocupação. Analisando toda a vida útil de um prédio, cerca de 15% dos investimentos são realizados no período de obras e os outros 85% se concentram na fase de operação.
“Também acabam contribuindo para a boa taxa de vacância os estudos que mostram que esses empreendimentos têm sistemas com desempenho bastante superior ao nível recomendado pelas normas técnicas”, complementa Faria. Por fim, há ainda o ganho de produtividade, pois é cientificamente comprovado que o ser humano tem melhor rendimento ao trabalhar em ambiente com boas condições de iluminação, ar interno, térmicas e sonoras.
INCENTIVO
Os bons resultados dos edifícios corporativos sustentáveis acabam servindo de vitrine para que as práticas ambientalmente responsáveis se popularizem em outros setores. “As certificações estão se tornando tendência, por exemplo, nos projetos de centros de distribuição e logística”, conta o profissional.
“No tripé da sustentabilidade (social, ambiental e econômico), o mais difícil é comprovar os ganhos financeiros de um green building, algo que essas pesquisas de mercado estão conseguindo mostrar”, fala o especialista, indicando que o próximo grande desafio é fortalecer a construção sustentável no mercado residencial. “Nesse segmento, quem se destaca é Curitiba, onde praticamente todos novos empreendimentos de altíssimo padrão estão certificados”, diz.
FUTURO
Na COP (Conferência do Clima) de Paris, realizada em 2015, foram apresentados diferentes estudos que mostram ser possível reduzir substancialmente as emissões de CO2 com apenas duas medidas. A primeira é colocar em prática o plano global de eficiência energética das edificações existentes. Já a outra se resume à aceleração do conceito de autossuficiência energética em novos projetos até 2030, somada à difusão da prática para todos os empreendimentos pré-existentes até 2050.
Com isso, será possível manter o aquecimento da temperatura do planeta entre 1,5 e 2ºC — meta da ONU. Assim, os empreendimentos corporativos que auxiliaram na disseminação da construção verde no país agora podem ajudar na popularização do conceito de autossuficiência energética. “Até por isso, recentemente lançamos a nova certificação Zero Energy Building”, finaliza Faria.
Fonte: Revista Contramarco